terça-feira, 10 de dezembro de 2013

O estresse em peixes: Ações do cortisol no organismo desses animais



 Fonte: www.petmag.com.br

O estresse é definido como “um conjunto de reações que o organismo desenvolve ao ser submetido a uma situação que exige esforço para adaptação”, e estressor “é todo agente ou demanda que evoca reação de estresse, seja de natureza física, mental ou emocional” (SEGANTIN; MAIA, 2007, apud, DINIZ e HONORATO, 2012 ). A resposta ao estresse envolve a ativação de dois eixos neuroendócrinos, o eixo hipotálamo, sistema nervoso simpático - células cromafins (HSC), que libera catecolaminas (adrenalina, noradrenalina) como produtos finais, e o eixo hipotálamo-hipófise-interrenal (HHI), que libera os corticosteroides (cortisol e cortisona) (OBA; MARIANO; ROMAGUEIRA, 2009). A ação destes hormônios em diversos órgãos alvos, especialmente naqueles que estão sob múltiplo controle endócrino, resultam em modificações bioquímicas e fisiológicas denominadas respostas secundarias ao estresse.

O cortisol plasmático é o indicador de estresse mais utilizado em peixes em qualquer estágio de seu desenvolvimento. Seus três importantes alvos são: as brânquias, intestino e fígado, os quais refletem as duas maiores ações desse hormônio, isto é, o controle do balanço hidromineral e do metabolismo energético. Sua atuação se dá através de dois tipos de receptores intracelulares, os mineralocorticoides e glicocorticoides. Atuando como mineralocorticoide, o cortisol atua na regulação osmótica e iônica estimulando a diferenciação de células de cloreto nas brânquias e aumentando a atividade da bomba de sódio-potássio (Na+/K+ - ATPase) que participam no transporte ativo dos íons sódio e cloreto. Em sua função como glicocorticoide, o cortisol estimula a glicogenólise no fígado, ocasionando uma hiperglicemia; estimula também a gliconeogênese neste mesmo órgão, além de influenciar no metabolismo de carboidratos, proteínas e lipídios, (FILHO, et al, 2005). A gliconeogênese pode contribuir para a perda de peso durante um estresse crônico. Outra função do cortisol durante o estresse é suprir a demanda energética dos peixes, no entanto o aumento do cortisol no organismo do animal pode afetar o sistema imunológico, os corticosteroides têm ação anti-inflamatória, inibindo o aumento da permeabilidade vascular e a migração de leucócitos para o foco lesado. Esta resposta é denominada de resposta terciaria que se manifesta também na inibição do crescimento e reprodução (DINIZ e HONORATO, 2012). 

Após exposto a alguma forma de estressor ambiental, uma das respostas mais perceptíveis do peixe é a cessação da alimentação. Esta resposta é influenciada por efeitos catabólicos das CAs e dos corticosteroides sobre as reservas energéticas dos tecidos corporais do animal, resultando num reduzido crescimento nos peixes estressados. Essa redução acontece devido o cortisol, provavelmente, exercer um papel inibitório sobre a síntese proteica e isto pode ser utilizado como indicador de crescimento somático (OBA, et al, 2009).  

A exposição a agentes estressores podem levar a redução no sucesso reprodutivo de várias espécies de peixes e os corticosteroides parecem mediar essa redução. Nos machos pode ocorrer a redução do conteúdo de gonadotropina (GtH) na hipófise, redução nos níveis plasmáticos de testosterona e 11-ceto- testosterona, o que resulta na diminuição do tamanho dos testículos, e da quantidade de espermatozoides, quando comparado com peixes não estressados. Em fêmeas a redução do conteúdo de GtH pode ser acompanhado pela redução  de estradiol circulante e diminuição de vitelogenina plasmática, precursor do vitelo. Estas reduções podem resultar no impedimento da vitelogenêse, redução do tamanho do ovário e dos ovos, ocorrendo atraso no tempo de ovulação, quando comparado com peixes não estressados (OBA, et al, 2009). 

Vale ressaltar que nem todas as elevações de cortisol podem ser atribuídas a ameaças no sentido negativo, pois, por exemplo, em salmonídeos migradores, picos de cortisol consideravelmente aumentados estão relacionados com a “esmoltificação”, que é o processo de adaptação para a migração desses peixes da água doce para a água salgada (LIMA, et al, 2006). Este processo esta relacionado a uma função mineralocorticoide do cortisol, que é a estimulação da captação de íons como Na+ e Cl- em peixes quando em água doce e a eliminação destes íons quando em água salgada (OBA, et al, 2009). 

REFERÊNCIAS


DINIZ, N. M.; HONORATO, C. A. Algumas alternativas para diminuir os efeitos do estresse em peixes de cultivo - revisão. Arq. Ciênc. Vet. Zool. UNIPAR, Umuarama, v. 15, n. 2, p. 149-154, jul./dez. 2012.

FILHO, Edemar B.; FIORUCCI, A. R. A importância do oxigênio dissolvido em ecossistemas aquáticos. Publicado em Química Nova na Escola. 2005. Disponível em :  < http://qnint.sbq.org.br/qni/visualizarTema.php?idTema=20 > Acesso em: 20 Nov 2013.

LIMA, L.C., Ribeiro, L.P., Leite, R.C, e Melo, D.C.. Estresse em peixes. Rev Bras Reprod Anim, Belo Horizonte, v.30, n.3/4, p.113-117, jul./dez. 2006.
 
OBA, E. T. et al. Estresse em peixes cultivados: agravantes e atenuantes para o manejo rentável. Artigo Embrapa. Macapá – AP.2009



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