domingo, 15 de dezembro de 2013

Ecolocalização



Você já ouviu falar no mecanismo da ecolocalização?


Esse mecanismo é um processo simples de ser compreendido, porém muito restrito na natureza. Poucos grupos de animais como os morcegos e os golfinhos possuem esta capacidade. Antes de apresentarmos especificamente o que realmente é a ecolocalização, vamos compreender alguns assuntos da física, que podem facilitar a sua compreensão.


REFLEXÃO DE ONDAS SONORAS E O ECO

A reflexão de ondas sonoras é de fundamental importância, pois esta é à base da ecolocalização, principalmente quando se trata de morcegos.

 Para definir reflexão, consideremos uma onda sonora gerada através de uma fonte qualquer, nas proximidades de um anteparo. Esta onda se desloca por um meio material e atingindo o obstáculo parte da energia sonora será refletida, ou seja, será devolvida em forma de som. Uma pessoa que acompanhe o procedimento citado terá duas sensações de som, o som primário gerado pela fonte e o som secundário devolvido pelo anteparo. Nestas condições, a reflexão pode se traduzir em três situações diferenciadas: o reforço, a reverberação e o eco (CUNHA, 2010).
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                                                                   Figura 1- Reflexão de onda sonora
                 Fonte: www.marcelomelloweb.kinghost.net/mmusc_percepcao_cognicaomusical03reverb.htm


DIFRAÇÃO
Ao atingir um obstáculo, uma onda sonora pode sofrer os efeitos da reflexão, produzindo eco, reverberando ou reforçando o efeito sonoro. Porém, se uma frente de onda atinge um obstáculo de forma parcial, ou seja, sua trajetória é interrompida não na totalidade, o efeito gerado é o da difração. Então a difração nada mais é a capacidade que uma onda possui de contornar um obstáculo, quando parcialmente interrompida por ele (Máximo, et al.1997).


O EFEITO DOPPLER


O efeito Doppler sonoro é um fenômeno que ocorre quando existe movimento entre a fonte do som e ou do ouvinte com relação ao meio, levando este a perceber uma variação na freqüência do som ouvido. Na prática podemos observar a ocorrência do efeito Doppler quando estamos parados à beira de uma estrada e por nós passa um veículo com uma fonte de som, um carro de propaganda, por exemplo. Enquanto o veículo se aproxima o som captado por nossos ouvidos é mais alto, ou seja, mais agudo, enquanto que à medida que o veículo se afasta, o som se torna nitidamente mais grave. Se o veículo se desloca à velocidade constante, a frequência observada, tanto mais alta quanto mais baixa, irá permanecer constante. No entanto, variações de frequências podem ocorrer caso haja aceleração ou desaceleração da fonte geradora de som (CUNHA, 2010).

O Efeito Doppler é um efeito comum, e certamente já o observamos por várias situações, mas como será que ele ocorre?

Para responder a esta pergunta, é necessário visualizar três situações. A primeira é considerar uma fonte de ondas sonoras e um receptor, sem que haja variações de espaço entre eles. Desta forma as frentes de onda emitidas pela fonte chegam ao receptor de forma regular, sem que estejam afastadas ou comprimidas. (Bertulani, 1999, apud, CUNHA,2010).
Figura 2- Representação de frentes de ondas circulares estacionárias
Fonte: www.if.ufrj.br/teaching/fis2/ondas2/ondas2.html
A segunda situação é considerar o caso de uma fonte sonora se aproximando do receptor. Neste caso as frentes de ondas se comprimem na direção do receptor, fazendo com que o ouvinte receba um maior número de frentes de ondas por unidade de tempo, se traduzindo em um aumento de frequência da onda sonora gerada (CINHA 2010).
                               
Figura 3- Representação de frentes de ondas circulares comprimidas
Fonte: www.if.ufrj.br/teaching/fis2/ondas2/ondas2.html


 terceira situação é considerar o caso onde a fonte sonora se mova para longe do observador. Neste caso irá ocorrer uma diminuição da quantidade de frentes de ondas recebida pelo ouvinte, por unidade de tempo, tal fato será identificado com a diminuição relativa da frequência gerada. É possível observar que as frentes de onda se afastam na direção do receptor, gerando diminuição relativa da frequência (CUNHA, 2010). 

                   
                              Figura 4- Representação de frentes de ondas circulares afastadas.
                              Fonte: www.if.ufrj.br/teaching/fis2/ondas2/ondas2.html

Então, o que finalmente é a ecolocalização?

De acordo com Cunha (2010), a ecolocalização pode ser definida como um mecanismo natural, utilizado por alguns animais, aumentando a sua capacidade de detecção de objetos no espaço. Este sentido de localização natural é muito restrito na natureza, ocorrendo em dois grupos de mamíferos, os morcegos e os golfinhos, e em um número extremamente reduzido de insetos e aves. Este sistema é pouco desenvolvido nas aves e insetos, porém extremamente eficiente nos mamíferos citados. É um mecanismo de funcionamento relativamente simples de se compreender: os animais geram ondas sonoras de alta frequência, normalmente acima da faixa de frequência audível, na altura do ultra-som. As frentes de ondas geradas se deslocam pelo meio, atingindo o obstáculo a ser identificado e retornam ao emissor que, simultaneamente, processa as informações recebidas identificando a posição do obstáculo.
                                           Ecolocalização em Morcegos 

                 
                      
                   Figura 5- Morcego utilizando a ecolocalização para localizar seu alimento
                   Fonte: www.essaseoutras.xpg.com.br

Nos morcegos que realizam localização pelo eco, existe certo número de modificações morfológicas e neuronais que ajudam a detectar os ecos. O focinho é coberto por dobras complexas, e as narinas são distanciadas para produzir um efeito de megafone. Os pavilhões auditivos são muito grandes para ajudar a capturar os ecos. A membrana timpânica e os ossículos são especialmente pequenos e leves, fornecendo alta fidelidade em frequências sonoras elevadas. Na emissão dos sons, os músculos que tracionam os ossículos contraem – se brevemente, reduzindo a sensibilidade da orelha (esta é uma característica comum nas orelhas dos mamíferos). Os seios venosos, o tecido conjuntivo e o tecido adiposo isolam a orelha interna, do crânio, reduzindo a transmissão direta de som da boca para a orelha interna. Finalmente, os centros auditivos do cérebro ocupam uma fração muito grande do relativamente pequeno cérebro do morcego. Muitas regiões do cérebro do morcego recebem sinais auditivos e, através dos processos de computação neuronal, constroem uma representação espacial do mundo externo a partir dessas informações auditivas (RANDALL, 2008). 


                                                    Ecolocalização em Golfinhos 
                             
                               Figura 6- Funcionamento da ecolocalização em golfinhos
                               Fonte: www.infoescola.com

A ecolocalização em golfinhos nada mais é do que uma adaptação física na qual capacita esses animais a capturar seu alimento no ambiente aquático. Eles produzem uma série de cliques no qual são produzidos por vibrações do ar nos em seus sacos nasais localizados, dentro do orifício respiratório. Estes são localizados embaixo do melão, que é uma camada de gordura modificada localizadas na parte frontal da cabeça, que quando o som produzido nos sacos nasais produzem vibrações de som que variam de 20 a 800 vibrações por segundo. Produzem dessa forma vibrações de ondas que viajam pelo ambiente, e quando colidem com um objeto, elas são refletidas de volta para o golfinho, que intercepta o sinal e traduz em imagem no cérebro o som recebido (Whitlow. 1993)

Tanto os morcegos como os golfinhos usam nos seus ecossistemas uma forma natural de tecnologia sonar para navegar e caçar, mas o que confere a esses animais essa características? Porque será que animais tão distintos possuem essa característica em comum?

Golfinhos e morcegos ambos possuem uma pequena, mas fundamental proteína que lhes permite ouvir frequências bastante elevadas. Além dessa caracteristica, duas reportagens presentes na Current Biology exploram a semelhança entre esses dois animais. Os pesquisadores verificaram que um gene nomeado de prestina possui uma sequência semelhante nas duas espécies, e  ambos os animais produzem uma proteína – também chamada de prestina – com as mesmas especificações estruturais. No entanto fazendo uma análise cientifica baseada no que foi observado, o que eles encontraram foram sequências genéticas similares e nada mais. A evolução de forma independente deve ter contribuído para que cada um desses grupos possa ter desenvolvido essas características que são de grande importância para a sobrevivência de ambas as espécies. 

Não somente as prestinas é o que há em comum entre esses animais, mas outras especificações são necessárias para que ocorra a ecolocalização nesses dois grupos.

 Todos os mamíferos possuem uma cóclea para amplificar, detectar e converter ondas de som em impulsos electro-químicos que estão em sincronismo com o cérebro. Mas os golfinhos e os morcegos possuem cócleas especiais.

                               

                                                   Figura 7-  Sistema Coclear (Audição)
                                                   Fonte: genesiscontradarwin.blogspot.com

Por exemplo, a cóclea dos morcegos possui células-pêlo especializadas que são menores que as células-pêlo detectoras de som em baixa frequência dos outros mamíferos. Além disso, eles possuem também “especializações nos centros auditivos do cérebro” que lhes permitem uma correta interpretação dos dados provenientes do bio-sonar.
 Essas e outras características conferem a esses animais a capacidade de realizar o mecanismo da ecolocalização.


No vídeo abaixo você conhecerá um pouco mais sobre a ecolocalização nos golfinhos.

Video 1 - Ecolocalização nos golfinhos.



Referências:

RANDALL, David J. et al. Eckert, fisiologia animal: mecanismos e adaptações. Ed. Guanabara Koogan. Rio de Janeiro – RJ. 2008.

Whitlow, W. L. (1993) The sonar of Dolphins. New York.

www.infoescola.com/biologia-marinha/ecolocalizacao-dos-golfinhos

CUNHA, L. P. A utilização da ecolocalização por morcegos. Monografia – DEFIJI. Paraná. 2013.



sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Bioluminescência


Você já ouviu falar no fenômeno da bioluminescência? Vamos descobrir como ocorre esse fenômeno e de que forma ele acontece em alguns animais. 

A bioluminescência nada mais é do que o fenômeno de emissão de luz por organismos vivos que ocorre quando alguma parte da energia química de reações bioquímicas é liberada na forma de fótons de luz. Esta conversão de energia química para luz é devida principalmente a proteínas chamadas de luciferinas. A luz é emitida quando esta molécula passa deste estado de alta excitação para um estágio menos excitado. Diferentes organismos bioluminescentes como vagalumes, possuem diferentes tipos de luciferinas que usam em diferentes vias metabólicas para liberar luz. A enzima que cataliza essa reação é chamada de Luciferase. Ambas, luciferina e luciferase variam bastante de configuração nos diversos animais, mas uma característica que é comum às diversas vias de bioluminescência é o fato de que em todas ocorre uma reação de oxidação da luciferina. A bioluminescência obedece a várias funções biológicas como: comunicação, proteção do ataque, atração de presas entre outras (VIVIANE, 2009, apud, HERRING, 1987).


                                                                                     Figura 1- Vagalume emitindo luz
                                                               Fonte: www.infoescola.com


Os vagalumes é um dos animais que realizam a bioluminescência. É sabido que nesses animais a emissão luminosa é controlada neurologicamente: os fotóforos, com fotócitos ricos em mitocôndrias (fonte ATP), possuem muitos terminais nervosos e traqueolas, que controlam a entrada de oxigênio. Esse fenômeno lhes permite emitir luz. Esta luminosidade ocorre pelo fato de existir uma reação química entre uma substância chamada luciferina, presente neste inseto, que, ao ser lançada no ar  é oxidada pelo oxigênio molecular. Dessa forma, a luciferina  perde sua energia que é visível na forma de luz.

A bioluminescência em vagalumes é utilizada para alertar seus predadores de que ele não é uma boa presa. Outro papel muito importante é no acasalamento, basicamente a sequencia de luz emitida por esses animais é uma suposta forma de comunicação entre eles.

No vídeo abaixo será possível conhecer um pouco mais sobre esses incríveis animais “os vagalumes”:

                                                  Video 1 - bioluminescência Vagalumes.

Outros animais também realizam a bioluminescência. A maioria dos animais dos oceanos produz luz, entre eles podemos mencionar as algas unicelulares, lulas, estrelas do mar, camarões, alguns peixes e muitos outros animais.

                                                    Figura 2- Diferentes animais que realizam a bioluminescência 
                                                                             Fonte: cienciahoje.uol.com.br


 Um fato interessante é que a maioria desses animais produz luz para se defender de seus predadores. Esse incrível fenômeno deve ter evoluído em diferentes linhagens de diferentes formas, seja para reprodução, defesa ou comunicação entre os animais. No vídeo abaixo vocês poderão conhecer um poucos mais sobre a manifestação desse fenômeno em diferentes espécies.


                                       Video 2 - bioluminescência em diferentes animais.
                                            

Referência

VIVIANI, V.R. Luciferases em vagalumes: Estrutura, função e aplicação em bioanálise e biomageamento Laboratório de Bioluminescência e Biotecnologia-UNISO Universidade Federal de São Carlos Campus de Sorocaba, SP, Brasil 2009.

ACORINTHE, J. P. O. Bioluminescência: a luz da vida. Mostra Acadêmica – Unimep. 2012.



terça-feira, 10 de dezembro de 2013

O estresse em peixes: Ações do cortisol no organismo desses animais



 Fonte: www.petmag.com.br

O estresse é definido como “um conjunto de reações que o organismo desenvolve ao ser submetido a uma situação que exige esforço para adaptação”, e estressor “é todo agente ou demanda que evoca reação de estresse, seja de natureza física, mental ou emocional” (SEGANTIN; MAIA, 2007, apud, DINIZ e HONORATO, 2012 ). A resposta ao estresse envolve a ativação de dois eixos neuroendócrinos, o eixo hipotálamo, sistema nervoso simpático - células cromafins (HSC), que libera catecolaminas (adrenalina, noradrenalina) como produtos finais, e o eixo hipotálamo-hipófise-interrenal (HHI), que libera os corticosteroides (cortisol e cortisona) (OBA; MARIANO; ROMAGUEIRA, 2009). A ação destes hormônios em diversos órgãos alvos, especialmente naqueles que estão sob múltiplo controle endócrino, resultam em modificações bioquímicas e fisiológicas denominadas respostas secundarias ao estresse.

O cortisol plasmático é o indicador de estresse mais utilizado em peixes em qualquer estágio de seu desenvolvimento. Seus três importantes alvos são: as brânquias, intestino e fígado, os quais refletem as duas maiores ações desse hormônio, isto é, o controle do balanço hidromineral e do metabolismo energético. Sua atuação se dá através de dois tipos de receptores intracelulares, os mineralocorticoides e glicocorticoides. Atuando como mineralocorticoide, o cortisol atua na regulação osmótica e iônica estimulando a diferenciação de células de cloreto nas brânquias e aumentando a atividade da bomba de sódio-potássio (Na+/K+ - ATPase) que participam no transporte ativo dos íons sódio e cloreto. Em sua função como glicocorticoide, o cortisol estimula a glicogenólise no fígado, ocasionando uma hiperglicemia; estimula também a gliconeogênese neste mesmo órgão, além de influenciar no metabolismo de carboidratos, proteínas e lipídios, (FILHO, et al, 2005). A gliconeogênese pode contribuir para a perda de peso durante um estresse crônico. Outra função do cortisol durante o estresse é suprir a demanda energética dos peixes, no entanto o aumento do cortisol no organismo do animal pode afetar o sistema imunológico, os corticosteroides têm ação anti-inflamatória, inibindo o aumento da permeabilidade vascular e a migração de leucócitos para o foco lesado. Esta resposta é denominada de resposta terciaria que se manifesta também na inibição do crescimento e reprodução (DINIZ e HONORATO, 2012). 

Após exposto a alguma forma de estressor ambiental, uma das respostas mais perceptíveis do peixe é a cessação da alimentação. Esta resposta é influenciada por efeitos catabólicos das CAs e dos corticosteroides sobre as reservas energéticas dos tecidos corporais do animal, resultando num reduzido crescimento nos peixes estressados. Essa redução acontece devido o cortisol, provavelmente, exercer um papel inibitório sobre a síntese proteica e isto pode ser utilizado como indicador de crescimento somático (OBA, et al, 2009).  

A exposição a agentes estressores podem levar a redução no sucesso reprodutivo de várias espécies de peixes e os corticosteroides parecem mediar essa redução. Nos machos pode ocorrer a redução do conteúdo de gonadotropina (GtH) na hipófise, redução nos níveis plasmáticos de testosterona e 11-ceto- testosterona, o que resulta na diminuição do tamanho dos testículos, e da quantidade de espermatozoides, quando comparado com peixes não estressados. Em fêmeas a redução do conteúdo de GtH pode ser acompanhado pela redução  de estradiol circulante e diminuição de vitelogenina plasmática, precursor do vitelo. Estas reduções podem resultar no impedimento da vitelogenêse, redução do tamanho do ovário e dos ovos, ocorrendo atraso no tempo de ovulação, quando comparado com peixes não estressados (OBA, et al, 2009). 

Vale ressaltar que nem todas as elevações de cortisol podem ser atribuídas a ameaças no sentido negativo, pois, por exemplo, em salmonídeos migradores, picos de cortisol consideravelmente aumentados estão relacionados com a “esmoltificação”, que é o processo de adaptação para a migração desses peixes da água doce para a água salgada (LIMA, et al, 2006). Este processo esta relacionado a uma função mineralocorticoide do cortisol, que é a estimulação da captação de íons como Na+ e Cl- em peixes quando em água doce e a eliminação destes íons quando em água salgada (OBA, et al, 2009). 

REFERÊNCIAS


DINIZ, N. M.; HONORATO, C. A. Algumas alternativas para diminuir os efeitos do estresse em peixes de cultivo - revisão. Arq. Ciênc. Vet. Zool. UNIPAR, Umuarama, v. 15, n. 2, p. 149-154, jul./dez. 2012.

FILHO, Edemar B.; FIORUCCI, A. R. A importância do oxigênio dissolvido em ecossistemas aquáticos. Publicado em Química Nova na Escola. 2005. Disponível em :  < http://qnint.sbq.org.br/qni/visualizarTema.php?idTema=20 > Acesso em: 20 Nov 2013.

LIMA, L.C., Ribeiro, L.P., Leite, R.C, e Melo, D.C.. Estresse em peixes. Rev Bras Reprod Anim, Belo Horizonte, v.30, n.3/4, p.113-117, jul./dez. 2006.
 
OBA, E. T. et al. Estresse em peixes cultivados: agravantes e atenuantes para o manejo rentável. Artigo Embrapa. Macapá – AP.2009